O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leu nesta quarta-feira (26) o requerimento para a criação da CPI mista do 8 de janeiro, já em meio às negociações de bastidor para a definição dos postos de comando da comissão.
A CPI, que terá prazo de 180 dias e cuja instalação está prevista para a próxima semana, deve ser presidida por um deputado e relatada por um senador.
Nem o PT de Luiz Inácio Lula da Silva nem o PL de Jair Bolsonaro ficarão com esses postos, que serão ocupados por nomes de partidos de centro e de direita que hoje estão mais alinhados ao Palácio do Planalto.
“A agenda de Brasil tem que estar apartada da agenda de divisão, da agenda de polêmica, que é própria do Parlamento e da política, mas há uma agenda que nos une, que é a agenda de estabelecer um marco fiscal, uma reforma tributária, de ter projetos que permitam o crescimento do Brasil”, afirmou Pacheco após a sessão do Congresso.
Um dos cotados para comandar a comissão é o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), que, no ano passado, apoiou publicamente a reeleição de Bolsonaro contra o “projeto socializante do PT, que tem trazido tanta pobreza”.
Segundo parlamentares, Maia tem apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que seria o fiador final da linha de atuação do indicado, caso ele se torne de fato presidente da comissão.
A CPI foi criada por iniciativa da oposição, que recolheu as assinaturas necessárias. O governo tentou barrar a comissão, com receio de danos às prioridades econômicas no Legislativo, além da possibilidade de os trabalhos serem usados como palanque pelo bolsonarismo.
Com a crise gerada pela divulgação de imagens das câmeras do circuito interno do Palácio do Planalto e que levou à demissão do então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Gonçalves Dias, a avaliação foi a de que a instalação da CPI era inevitável e, então, o governo passou a trabalhar para assumir o seu comando.
A comissão será formada por 16 deputados e 16 senadores. Apesar de ter a maior bancada da Câmara, o PL de Bolsonaro será minoria, já que os dois blocos da Casa, que hoje têm uma tendência mais governista, formarão maioria ao lado do PT.
A partir da criação da CPI, os partidos e blocos vão indicar seus representantes. O colegiado possivelmente deve ser instalado na semana que vem, com a eleição do presidente.
Geralmente, o nome é escolhido com antecedência pelos caciques partidários que comandam a maioria das cadeiras. Eleito, o presidente indica o relator, também já escolhido previamente nesse acordo político.
No Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) articula ao lado de Pacheco o nome do relator. O governo vê com bons olhos a indicação de Renan Calheiros (MDB-AL) para a função, mas isso esbarra na rixa regional entre ele e Arthur Lira em Alagoas.
Uma solução seria o nome do líder do MDB, o senador Eduardo Braga (AM), que já foi sondado por aliados de Lula, mas é reticente à ideia.
Entre os nomes cotados para integrar a comissão estão os deputados Lindbergh Farias (RJ) e Rogério Correia (MG) e os senadores Fabiano Contarato (ES) e Rogério Carvalho (SE), pelo PT.
Já o PL tem como cotados os deputados Eduardo Bolsonaro (SP), André Fernandes (CE) e Alexandre Ramagem (RJ), além dos senadores Magno Malta (ES) e Jorge Seif (SC).
O MDB deve ter dois cargos, para os quais são cotados Renan e Braga.
O partido de Lira tem direito, no bloco junto ao Republicanos, de indicar dois senadores. Os nomes mais citados nos corredores do Congresso são o de Espiridião Amin (PP-SC) e Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ambos bolsonaristas –o segundo, inclusive, foi vice-presidente do antigo governo.
Ainda no Republicanos, a ex-ministra de Bolsonaro Damares Alves (DF) e o senador Cleitinho (MG) são citados como possíveis suplentes de Mourão.
A União Brasil pode ser um partido-chave, já que tem direito a duas indicações e tem, no seu quadro, nomes vistos como pró-governo e oposição.
Nesse sentido, o PT vê com simpatia a senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que foi autora de outro requerimento para a instalação de uma CPI para investigar os atos golpistas.
O PSB no Senado, que compõe o bloco com PT e PSD, deve abrir mão de sua vaga para um dos outros dois partidos.
Um dos principais líderes da campanha digital de Lula nas eleições, André Janones (Avante-MG) fez campanha nas redes sociais em prol de sua indicação nesta quarta-feira.
“Me joguem lá dentro, e o resto deixa comigo”, escreveu o parlamentar em um grupo de apoiadores, estimulando-os a fazer campanha por ele nas redes.
Ainda nesta quarta, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), manobrou para conseguir mais uma vaga na comissão para a base do governo –e quem perdeu foi justamente o PL.
Randolfe mudou o bloco do seu partido, a Rede, que deixou o maior grupo da Casa, o do MDB e que tinha 30 senadores, para entrar no segundo maior, o do PT, que até então tinha 28. Com a mudança, ambos passaram a ter 29.