Entre Toga e Palanque: o Brasil sob Sanção e Silêncio
A sanção imposta pelo governo dos Estados Unidos ao ministro Alexandre de Moraes não é um gesto isolado. É um marco histórico e um sinal inequívoco de que a democracia brasileira, outrora celebrada internacionalmente, entrou em zona de turbulência. A aplicação da Lei Global Magnitsky, anunciada em 30 de julho de 2025, acusa Moraes de abusos de autoridade e violações de direitos humanos, especialmente no contexto de prisões pré-julgamento e repressão à liberdade de expressão.
Enquanto isso, em Brasília, reina o silêncio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que nos palanques prega liberdade, democracia e harmonia institucional — mantém firme sua aliança com o ministro sancionado. Não à toa: Lula já antecipou sua campanha eleitoral, embalado por narrativas recicladas e frases de efeito que tentam, sem sucesso, convencer uma opinião pública cada vez mais cética e desiludida. A retórica do “nós contra eles”, do “golpe imaginário”, da “defesa da democracia” , “Em defesa da Soberania Nacional “ virou bordão vazio, repetido à exaustão como cortina de fumaça para o que de fato interessa: a blindagem do sistema de poder.
Em um país assolado pelo desmando e denúncias de corrupção, violência e desemprego, a verborragia presidencial já não surte efeito prático algum. Enquanto o povo enfrenta as dificuldades reais do cotidiano, o chefe do Executivo se dedica a discursos de conveniência — sempre a favor de si, e manutenção do poder em campanha política antecipada escancarada. E raramente a favor do Brasil.
O Congresso Nacional, que deveria ser o guardião da República, ajoelha-se em silêncio obsequioso. Abdica do seu papel de equilíbrio e se contenta com a segurança das emendas parlamentares, em vez de enfrentar o desconforto de contrariar ministros que hoje decidem : decidem tudo e principalmente como a política deve funcionar.
A história já demonstrou que democracias não se rompem apenas com tanques nas ruas — às vezes, basta uma caneta afiada, uma toga sem freios e uma base aliada sem espinha. O Brasil não vive um regime formalmente autoritário, mas opera sob uma lógica onde exceções viraram rotina, onde críticas legítimas são confundidas com crimes, e onde discordar do sistema dominante tornou-se um ato de risco.
O alerta veio de fora. E isso, por si só, é alarmante.
A sanção americana não é ingerência — é espelho. Um reflexo de como o país está sendo visto pelo mundo. Quando um ministro da mais alta corte de um país democrático é tratado como um violador de direitos, a mancha não se limita à sua biografia: ela respinga na instituição que representa e na nação que o sustenta.
Neste momento, o Brasil precisa mais do que indignação seletiva ou torcidas organizadas. Precisa de maturidade institucional, coragem cívica e um debate público livre de intimidações. É hora de o Legislativo recuperar sua voz. É hora de o Judiciário reencontrar seus limites. É hora de o Executivo sair dos palanques e enfrentar o Brasil real — aquele que trabalha, paga impostos e espera não ser governado por slogans, mas por ações concretas.
Se não houver reação de equilíbrio agora, não será a história que nos julgará — será o silêncio