Del Toro ressignifica Frankenstein com uma obra visualmente arrebatadora e artisticamente impecável.
Editorial A Pauta 10 | Análise Crítica
O novo Frankenstein de Guilherme Del Toro nasce como acontecimento cinematográfico. Uma criação construída com rigor, imaginação e maturidade estética, que devolve ao mito literário sua força dramática sem perder o pulso emocional. Em um mercado saturado por pressa, o filme se impõe como experiência íntegra, guiada por direção consciente e artesanato técnico de altíssimo nível.

Existe algo raro aqui: a sensação de que cada minuto foi pensado com seriedade artística. Del Toro administra tensão, emoção e silêncio com precisão de veterano e sensibilidade de quem compreende o valor simbólico da criatura que coloca em cena. Nada é gratuito. Nada é exagerado. Tudo pulsa com intenção.
A fotografia tem brilho próprio. A combinação de luz, textura e contraste constrói uma atmosfera hipnótica que molda terror, inocência e desamparo. As imagens não ilustram: interpretam. São extensão viva dos personagens.

O figurino, assinado pela talentosa Kate Hawley, é peça estrutural. Em Victor Frankenstein, tons e cortes revelam inquietação e ambição. Na Criatura, as camadas de tecido transformam dor em discurso visual. Em Elizabeth Lavenza, as texturas ampliam espiritualidade e nuance. Cada escolha veste não só o corpo, mas o conflito.

As atuações formam um conjunto que engrandece o filme. Oscar Isaac entrega um Victor de intensidade controlada. Jacob Elordi dá vida a uma Criatura que emociona e assusta com igual potência. Mia Goth oferece uma Elizabeth precisa, cheia de presença. Christoph Waltz, com domínio absoluto da pausa e do olhar, constrói um Heinrich Harlander de inteligência afiada. Nenhum deles atua sozinho; atuam em ressonância.

O roteiro avança com ritmo e concisão. A montagem costura o drama com fluidez. A edição reforça a cadência sem roubar atenção. É cinema guiado por propósito. É técnica a serviço da narrativa.
Com esse nível de afinação, a temporada de premiações se torna caminho natural. Figurino, fotografia, direção de arte, roteiro adaptado, montagem, direção e atuações: tudo aqui tem densidade competitiva.
Se existe algo a ajustar, é apenas o desejo de alguns segundos adicionais para silêncios que mereciam respirar mais. Mas isso não arranha o brilho geral. É detalhe de quem observa com lupa aquilo que já funciona de forma sensacional.

No fim, Del Toro entrega mais que um filme de 120 milhões de dólares . Entrega um gesto artístico. Uma obra que respeita o público, honra o mito e reafirma o vigor de um diretor que continua a elevar a própria filmografia. Frankenstein entra e sai da tela com a mesma força: intenso, preciso e inesquecível.
É cinema, um filme inteligente para quem aprecia a sétima arte que permanece mostruosamente bela e viva.
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FRANKENSTEIN — Ficha Técnica
(Disponível na Netflix)
Direção
Guillermo del Toro
Produção
Guillermo del Toro
J. Miles Dale
Roteiro
Guillermo del Toro
Basedo na obra de Mary Shelley
Direção de Fotografia
Dan Laustsen
Direção de Arte / Design de Produção
Tamara Deverell
Figurino
Kate Hawley
Montagem
Cam McLauchlin
Edição de Som / Mixagem
Scott Gershin
Trilha Sonora
Alexandre Desplat
Maquiagem e Próteses
Mike Hill
Shane Mahan
Efeitos Visuais (VFX Supervisor)
Guillaume Rocheron
Elenco Principal
Oscar Isaac — Victor Frankenstein
Jacob Elordi — A Criatura
Mia Goth — Elizabeth Lavenza
Christoph Waltz — Heinrich Harlander
Distribuição
Netflix















