O deputado estadual Yglésio Moyses (PRTB) denunciou, na Tribuna da assembleia legislativa , a existência de áudios atribuídos a integrantes do grupo político ligado ao ex-governador e atual ministro do Flávio Dino, que, segundo ele, revelariam uma tentativa de chantagem política contra o governador Carlos Brandão (PSB).
O que foi denunciado
Moyses afirmou que os áudios mostram que aliados dos chamados “dinistas” pressionaram Brandão a apoiar determinadas candidaturas nas eleições municipais de 2024, em troca de indicações para cargos públicos, em especial no Tribunal de Contas do Estado do Maranhão (TCE-MA).
Além disso, segundo o parlamentar, os registros incluem conversas sobre municípios estratégicos — como Barreirinhas e Colinas — onde o apoio político seria negociado com base nesses acordos.
Moyses destacou:
“O que precisa escandalizar a todos nós é o que está sendo dito nessas conversas: são pressões para liberar vaga [no TCE] mediante cumprimento de acordo político. Isso é espúrio, isso é imoral, isso é crime de responsabilidade, isso aí é tráfico de influência…”
Ele ainda enfatizou que, em sua avaliação, não houve grampo ou interceptação estatal: “As conversas foram gravadas pelos próprios participantes, não pela Polícia Civil ou outro órgão do Estado”, afirmou.
Os deputados federais Márcio Jerry (PCdoB) e Rubens Pereira Júnior (PT), mencionados nas gravações, reagiram à acusação. Ambos protocolaram representação na Câmara dos Deputados, pedindo que o presidente da Casa encaminhe o caso à Polícia Federal (PF), sob a alegação de gravações ilegais que teriam ocorrido no âmbito da estrutura estadual.
Em comunicado, os parlamentares alegaram ter sido vítimas de interceptações e vazamento de áudios, sem acesso ao material completo, e exigiram investigação.
Maranhão, por sua vez, negou que tenha realizado qualquer investigação, escuta ou perícia envolvendo os deputados federais citados.
O órgão afirmou que “jamais houve investigação que envolvesse … os senhores Márcio Jerry, Rubens Júnior … assim como de quem quer seja nesse contexto de utilização da força de segurança pública para fins políticos”.
Contexto e repercussão política
O episódio reforça as tensões existentes entre as alas “brandistas” e “dinistas” no ambiente político maranhense — grupos que até recentemente compunham a base aliada do governo.
Moyses defende que o foco da apuração está no conteúdo das conversas (“não é a forma da gravação”), e exige responsabilidade das instituições.
Linha do tempo.
07 a 08 de outubro de 2025: começam a circular informações sobre gravações atribuídas ao governo do Maranhão envolvendo deputados federais Márcio Jerry e Rubens Pereira Júnior.
13 de outubro de 2025: Jerry e Rubens Jr. protocolaram representação pedindo que a Câmara encaminhe o caso à PF sob suspeita de gravações ilegais.
14 de outubro de 2025: Yglésio Moyses divulga que teve acesso aos áudios e comunica à imprensa que os registros mostram pressões sobre Brandão.
15 de outubro de 2025: Comentários na mídia reforçam o alerta para o risco político caso os áudios sejam verificados como autênticos.
O discurso feito por Yglésio Moyses e o vídeo divulgado em suas redes sociais coloca o modelo de articulação política no Maranhão sob escrutínio.
O episódio expõe o Maranhão a um risco concreto de desgaste institucional profundo. Não se trata de disputa interna do governo, mas de pressões externas que tentam manipular decisões e condicionar apoio político.
O caso não é ruído político — é um abalo sísmico na estrutura de poder maranhense. A tentativa de constranger um governador por meios escusos, se confirmada, expõe o quanto o jogo político local ainda é regido por métodos arcaicos de intimidação e chantagem. As gravações, mais do que áudios, soam como ecos de um passado que insiste em se impor sobre a institucionalidade.
Se não houver não reação com firmeza e transparência, o silêncio das autoridades será interpretado como conivência disfarçada de prudência.
No fim, ou o Maranhão enfrenta essa crise com coragem, ou continuará refém dos bastidores que há muito tempo controlam o poder real. Há, por trás do silêncio e da hesitação de muitos, o medo de confrontar um poder supremo enraizado, condicionado e habituado à lógica da influência e da conveniência — um sistema que sobrevive sustentado pela erosão da credibilidade política e pela complacência institucional que o alimenta. Em resumo , toga, palanque e cadeia não cabem nas urnas .