Brasília – A farsa ruiu. A Procuradoria-Geral da República (PGR) negou, nesta segunda-feira (14), o perdão judicial ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e escancarou o que muitos já suspeitavam: o suposto “colaborador da Justiça” é, na verdade, um personagem duplo, omisso, contraditório e indigno de confiança.
Mesmo após firmar acordo de delação premiada no caso que investiga a tentativa de golpe em 2022, Cid não convenceu a Justiça. O parecer final da PGR, assinado pelo procurador-geral Paulo Gonet, foi categórico: o militar mentiu, omitiu, resistiu à verdade e tentou manipular o processo.
“O réu resistiu ao reconhecimento de sua efetiva participação nos eventos sob investigação”, aponta o documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O resultado? Nada de perdão. Nada de pena alternativa. Nenhum alívio. A PGR ignorou a proposta da Polícia Federal de reduzir a pena em até 2/3 e autorizou, no máximo, uma redução de 1/3 — um castigo claro para um delator que tentou enganar o próprio sistema ao qual deveria servir.
A delação de Mauro Cid, vendida como peça-chave contra o núcleo bolsonarista, virou motivo de descrédito. Em vez de colaborar com a verdade, Cid tentou enganar a República — escondeu informações cruciais, entregou depoimentos rasos e agiu com duplicidade.
Perfil falso e conluios ocultos
A PGR ainda revelou o uso de um perfil falso no Instagram (@gabrielar702), vinculado ao e-mail pessoal de Cid, utilizado para manter contato com aliados próximos de Bolsonaro, inclusive com Eduardo Kuntz, advogado do coronel Marcelo Câmara — outro réu do caso. A Meta confirmou que o perfil pertence ao endereço eletrônico maurocid@gmail.com, expondo ainda mais a teia de enganos montada pelo ex-ajudante de ordens.
> “A conduta de Mauro Cid denota resistência ao cumprimento dos compromissos assumidos no acordo”, cravou o Ministério Público Federal, descartando qualquer forma de pena branda.
A defesa nega o uso do perfil. Mas a documentação da Meta e a gravidade das ações falam mais alto que qualquer narrativa montada.
Sem farda, sem honra, sem perdão
Nem mesmo os advogados de outros réus — inclusive os de Bolsonaro — conseguem sustentar a validade dessa delação. Pedem a anulação, mas a PGR, apesar de reconhecer os danos causados pelas atitudes de Cid, opta por manter o acordo, mas com punição exemplar.
Mauro Cid se achava esperto demais para a Justiça, tentou salvar a si mesmo traindo aliados, omitindo provas e enganando o Estado. Firmou um pacto com o diabo — e foi traído pela própria mentira.
Agora, sem o benefício do perdão judicial e sem a proteção de ninguém, o tenente-coronel trilha o caminho da desonra completa. Um soldado que não teve coragem de sustentar a própria verdade. Um homem que traiu a todos — e também a si mesmo.