O presidente do MDB, Baleia Rossi, disse que o vídeo gravado pela primeira-dama, Janja, e por outras mulheres contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi “desnecessário e desrespeitoso”.
Rossi, 52, também criticou a atuação de Jair Bolsonaro (PL) e de bolsonaristas na eleição de São Paulo e disse que o MDB não tem compromisso com o PT para 2026. Apesar disso, ele não endossou a posição de Nunes, que em entrevista defendeu que o partido esteja no palanque oposto ao de Lula daqui a dois anos.
O presidente do MDB disse também que pretende atuar de forma mais alinhada com PSD e União Brasil.
PERGUNTA – O que o sr. achou da participação de Lula na campanha e do vídeo gravado por Janja e por outras apoiadoras do Boulos?
BALEIA ROSSI – A participação do presidente Lula já era absolutamente esperada, ele teve uma presença forte, a gente já aguardava. Aquele vídeo que foi feito na véspera da eleição foi absolutamente desnecessário e desrespeitoso. Em uma eleição você pode ganhar, perder, ter sucesso ou não, mas ali foi absolutamente fora de qualquer padrão ético.
Acabaram criando uma história que é inverídica. Quem leu o boletim de ocorrência, está absolutamente claro. Um momento que muitos casais passam, de dificuldades e uma discussão por mensagem e por telefone. Estão casados há 27 anos, têm três filhos, neto, têm uma vida muito estruturada. Ali, graças a Deus, a família se uniu, porque a gente sabe que quando vem com esse tipo de baixaria, com esse tipo de de ódio, a família sofre muito.P – Nunes defendeu que o MDB esteja em 2026 no palanque de Bolsonaro ou de Tarcísio.
BR – O MDB vai completar 60 anos no final desta legislatura e é um partido plural. É um partido que tem muitas lideranças importantes, entre elas o Ricardo Nunes. O MDB vai fazer essa discussão no segundo semestre do ano que vem. O partido nunca teve dono. Essa decisão vai ser tomada pelo conjunto de lideranças.
O Ricardo e o MDB de São Paulo, e aí eu me incluo também, somos muito gratos ao que o governador Tarcísio de Freitas fez na eleição. Naquele momento em que o Ricardo estava com uma certa dificuldade, nós estávamos oscilando na pesquisa [atrás numericamente de Pablo Marçal], quando muitos escorregam, vão para cá, vão para lá, dizem “não é comigo”, o Tarcísio abraçou e foi um parceiro muito leal, firme.
P – O senhor elogiou a lealdade e a firmeza do Tarcísio, diferentemente de outros que se esconderam. É uma referência a Bolsonaro?
BR – O Bolsonaro teve uma participação na campanha do Ricardo dentro daquilo que ele estabeleceu. Ele esteve presente na nossa convenção, depois participou no primeiro turno em alguns eventos virtualmente. E depois teve uma presença no segundo turno. Poderia ser mais. Acho que no primeiro turno, com muitas emoções e muitas novidades, ele preferiu ter uma participação mais modesta.
P – Mas o titubeio que o sr. citou no caso de Marçal foi em relação a ele, não?
BR – O presidente Bolsonaro é um líder que tem um domínio muito grande também das redes sociais. Pela primeira vez nós vimos alguém que dominou essa área [Marçal]. Se tirar o Fábio Wajngarten [titular da Secom na gestão Bolsonaro], que esteve com o Ricardo do primeiro ao último momento, nós não tivemos nenhuma liderança da direita que no primeiro turno declarou apoio ao Ricardo Nunes. Pode ter tido uma ou duas. Mas em um universo de 100 lideranças importantes que eles têm, nós não tivemos apoio.
Acho que teve ou uma adesão à candidatura do Pablo Marçal já no primeiro turno, isso é um fato, ou muitos deles não se posicionaram com medo de levar porrada na rede social.
P – A vitória de Nunes muda a correlação de forças dentro do MDB e do governo? O sr. acha que precisa de uma reforma ministerial?
BR – Acho absolutamente desnecessária. Por parte do MDB não há nenhuma reivindicação de mais espaço no governo federal. O MDB tem três ministérios e não são três ministérios quaisquer.
P – Não existe compromisso futuro com o presidente Lula?
BR – Não existe um compromisso futuro com o PT. Essa discussão nós vamos fazer internamente no partido, no segundo semestre de 2025.
P – A atuação do Tarcísio em São Paulo o credencia para a disputa em 2026?
BR – O Tarcísio tem me falado reiteradamente que o projeto dele é a candidatura à reeleição ao Governo de São Paulo, eu não vejo hoje disposição dele entrar numa disputa nacional. Claro que isso vai acontecer lá na frente, com uma análise de como estará o quadro político em 2026. Mas a preço de hoje eu diria que o governador Tarcísio é candidato à reeleição em São Paulo.
P – A luz do resultado eleitoral, há quem defenda um bloco entre MDB e PSD e talvez o União Brasil. O sr. vê isso com bons olhos?
BR – Vejo. Tanto o MDB como o PSD saíram fortalecidos da eleição. O União Brasil também. São os três partidos que têm mais características ao centro. Eu acho que é uma maneira de a gente fortalecer o que a gente representa.
P – Pode-se esperar no Congresso uma atuação mais conjunta de MDB, PSD e União Brasil, mais inclinados ao governo, e Republicanos e PP mais à oposição?
BR – O Republicanos e o PP têm ministros também. Aí tem um pouco uma diferenciação de direção partidária e bancadas federais. Acho que você tem a presença do PP no governo, do Republicanos, tem a presença forte, com três ministérios, do União Brasil, do PSD e do próprio MDB. Eu acho que essa posição colaborativa, propositiva, de torcer para que o país vá bem, é uma realidade.
Agora, a questão partidária, aí cada um tem o seu posicionamento. A gente tem conversado muito, eu e o [Gilberto] Kassab [presidente do PSD], e acho que com o [Antonio] Rueda [presidente do União Brasil] a gente pode conversar mais para que possamos também influenciar numa agenda que dê perspectiva de futuro para o país.
Muito provavelmente nesses próximos dias o MDB deverá reunir e a tendência é que o MDB declare apoio ao candidato [à presidente da Câmara] Hugo Motta, do Republicanos [o apoio foi anunciado na quarta]. Aí a formação do bloco parlamentar efetivamente vai para a eleição do presidente da Câmara. Mas eu acho que é absolutamente factível que o MDB, o PSD e o União Brasil possam dialogar e fazer um trabalho juntos.
BR – Essa discussão não ocorreu ainda no MDB nem na bancada nem no partido. O que nós temos que entender é que o que ocorreu no dia 8 foi muito grave. Temos uma democracia para zelar. Foi uma coisa deplorável. Agora, se falar em dosimetria da pena, aí é uma outra questão, mas isso ainda não foi discutido.