Em uma decisão histórica, o Senado Federal aprovou, em 10 de julho de 2025, o Projeto de Lei 1.225/2024, que institui aposentadoria especial para mães atípicas — mulheres que dedicam suas vidas ao cuidado integral de filhos com deficiência, transtorno do espectro autista ou outras condições que exigem atenção contínua. A proposta, que segue para sanção presidencial, representa uma das mais significativas conquistas sociais dos últimos anos.
Mais do que uma mudança previdenciária, a medida simboliza o reconhecimento oficial de um trabalho contínuo, exaustivo e até então invisível ao Estado: o cuidado dedicado por milhares de mães, muitas vezes ao longo de toda uma vida, sem qualquer compensação ou apoio institucional.
Reconhecimento necessário
De autoria do deputado Glaustin da Fokus (Podemos-GO), o projeto começou a tramitar no início de 2024 e avançou rapidamente, impulsionado por consenso entre parlamentares e forte mobilização social. Com a aprovação no Senado, resta apenas a assinatura do presidente para que o novo direito seja garantido.
Essas mães exercem, de forma simultânea, papéis de cuidadora, enfermeira, terapeuta, educadora, mediadora e defensora da inclusão. Seus filhos frequentemente dependem delas para necessidades básicas e suporte emocional, o que torna sua rotina intensa e ininterrupta.
A nova legislação prevê critérios diferenciados para aposentadoria, considerando o grau de dependência do filho e o nível de dedicação materna. Detalhes técnicos ainda serão definidos por regulamentação, mas já está claro que haverá redução no tempo de contribuição e/ou na idade mínima exigida.
Avanço jurídico e social
Especialistas consideram a aprovação um divisor de águas. A professora de Direito Constitucional Clara Nascimento afirma que a medida corrige uma omissão histórica do Estado:
Pressão social e mobilização
A conquista é resultado de anos de luta de mães atípicas, entidades civis, profissionais da saúde, educação e direito. Campanhas, audiências públicas e mobilizações digitais mantiveram a pauta ativa e sensibilizaram o Congresso.
A celeridade da tramitação revela a maturidade da sociedade brasileira em torno da causa. A mobilização popular transformou uma demanda invisível em política pública concreta.
Próximos passos
Após a sanção presidencial, caberá ao Ministério da Previdência Social regulamentar os critérios de acesso ao benefício. A expectativa é que o novo regime esteja disponível ainda em 2025.
Entre os pontos que precisam de definição estão:
tempo mínimo de dedicação exclusiva;
documentação exigida;
parâmetros para definir o grau de dependência do filho;
possibilidade de estender o benefício a outros cuidadores legais.
Conquista coletiva
A aprovação do PL 1.225/2024 é mais do que um direito concedido a um grupo específico — é um gesto de justiça social que fortalece os princípios de equidade, solidariedade e dignidade humana.
“Durante anos, fomos invisíveis. Agora, somos reconhecidas”, afirma Renata Borges, mãe de um adolescente autista e integrante do movimento Mães Pela Inclusão, fundado em 2019.
O que muda
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O PL 1.225/2024 amplia o conceito de segurado facultativo no INSS, permitindo que esses cuidadores contribuam sem precisar de vínculo formal de trabalho, com alíquota reduzida e sem restrição de renda familiar.
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Tais contribuições serão reconhecidas para fins de aposentadoria, pensão por morte e outros benefícios previdenciários.
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A proposta reconhece que o cuidado integral impõe barreiras à inserção no mercado de trabalho, tornando justo e necessário garantir proteção social a essas famílias
Por que é relevante
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Mães atípicas frequentemente renunciam à carreira profissional, autonomia financeira e sofrem desgaste emocional e físico, sem acesso a direitos previdenciários.
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O projeto confronta essa injustiça, valorizando o trabalho invisível e essencial que realizam.
Quem será beneficiado
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Pais ou mães que sejam o principal responsável pelo cuidado de filhos com deficiência ou TEA.
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Nesse contexto, a designação “mãe atípica” se estende para incluir também pais que assumem essa função
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A proposta foi aprovada no Senado.
Impactos esperados
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Garantia de aposentadoria digna e seguridade social para milhares de cuidadores que hoje dependem de rendimentos precários.
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Envio de sinal claro de reconhecimento da sociedade e do Estado ao valor do cuidado diário, reforçando a justiça social e a cidadania.