A queda relâmpago do Banco Master — culminando na prisão de seu dono, Daniel Vorcaro, durante a Operação Compliance — virou manchete, mobilizou Polícia Federal, arrastou o Banco Central para uma liquidação extrajudicial e interrompeu negócios multimilionários. Mas, enquanto o sistema financeiro desmorona em público, o que permanece de pé e intacto nos bastidores parece bem mais relevante que o empresário levado algemado.
O Master mantinha contratos com o escritório Barci de Moraes, onde trabalham a esposa e dois filhos do ministro Alexandre de Moraes, do STF. A informação foi divulgada por Malu Gaspar, de O Globo. O escritório representou o banco em processos judiciais e também atuou em defesa da própria família Moraes no episódio da suposta agressão em Roma, em 2023. Não há transparência sobre valores pagos ou casos específicos.
O banco também acumulava cerca de R$ 8,7 bilhões em precatórios da União, além de litígio relevante sobre CSLL sob relatoria do ministro Gilmar Mendes. Em 2023, já havia contratado outro ex-ministro do STF, Ricardo Lewandowski, hoje ministro da Justiça, com remuneração estimada em R$ 100 mil mensais.E também o ex-presidente Michel Temer.
Se o colapso soa como escândalo individual, o contexto sugere que a queda do banqueiro funciona mais como anestesia social do que como mea-culpa institucional. Vorcaro pode ter papel central no esquema investigado, mas seu papel público se aproxima mais da velha figura folclórica do vaqueiro que se lança ao rio para distrair as piranhas enquanto a boiada segue intacta — só não se pode afirmar quem conduz essa boiada
Vorcaro colecionava participações milionárias: hotel Fasano do Itaim, Will Bank, e cerca de 26% da SAF do Atlético Mineiro. Também ficou marcado pelo luxo — como uma festa de 15 anos estimada em R$ 15 milhões para a filha em 2023.
Agora, vira protagonista involuntário de uma liquidação que interrompe negociações bilionárias com o Grupo Fictor e expõe fissuras em um sistema financeiro que opera próximo ao poder, mas raramente se vê responsabilizado com a mesma intensidade da opinião pública.
E, como já dizia o clássico do cinema nacional, “o sistema entrega a mão para salvar o braço. O sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças. O sistema é foda, parceiro… e adivinha quem banca tudo isso?”.
A tropa é de Elite, nesta savana brutal de atraso e poder.















