O jovem atirador que matou 23 pessoas num ataque racista em 2019, num supermercado Walmart em El Paso, nos Estados Unidos, foi formalmente condenado na sexta-feira (7), a 90 penas de prisão perpétua,
A pena de prisão é, além de pesada, um marco simbólico, dado os crimes de ódio e a xenofobia anti-hispânica que marcaram o violento ataque.
Patrick Crusius, de 24 anos, matou 23 pessoas e feriu outras 23, e o tiroteio foi motivado pelo seu profundo ódio contra pessoas hispânicas, especialmente mexicanas. O incidente, um dos piores ataques contra a comunidade hispânica nos Estados Unidos na sua história recente, foi considerado como um ato de terrorismo doméstico pelas autoridades.
Crusius, na época com 21 anos, era um ávido consumidor de teorias da conspiração e uma presença frequente em fóruns online de grupos de supremacia branca, milícias armadas e apoiantes de Donald Trump. Num manifesto deixado antes do ataque, o jovem citou outros ataques racistas, como o tiroteio numa mesquita em Cristchurch, e defendeu a teoria da substituição racial, uma teoria da conspiração com adeptos na extrema-direita norte-americana que fala de uma substituição da população caucasiana através da entrada de imigrantes ilegais e de casamentos com pessoas negras.
Após o ataque, o próprio tirador teria admitido aos investigadores que o seu objetivo era matar o maior número de mexicanos possível, tendo viajado cerca de 1.000 quilômetros para o efeito.
A pena de 90 prisões perpétuas é relativa às acusações apresentadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos por dezenas de crimes de ódio e de homicídio com armas de fogo – Crusius assumiu a culpa pelos 90 crimes, depois de as autoridades federais terem anunciado que não iam procurar a pena de morte. No entanto, o condenado ainda terá de ser julgado por crimes ao nível estatal, sendo que o estado do Texas admite a pena de morte e o procurador regional de El Paso já disse que irá tentar que esta seja a sentença final.
Ao longo de sexta-feira, vários familiares das vítimas tiveram oportunidade para abordar o tribunal e Patrick Crusius, que se manteve calado e quieto durante toda a sessão. Tito Anchondo, irmão de dois jovens que morreram nesse dia, explicou que Crusius “procurou magoar pessoas apenas por dizer que os hispânicos estavam a dominar”.
“Só quero que ele saiba que os seus esforços foram em vão. Sim, perdemos muitas pessoas. Os que ficaram, continuaram a seguir em frente”, afirmou Anchondo.