Enquanto o Rio enfrenta sua maior guerra desde o auge das facções, o presidente mede palavras como quem mede votos. A hesitação travestida de equilíbrio revela um governo paralisado, que teme perder narrativa mais do que perder vidas.

O Brasil vive um capítulo brutal — e, ao mesmo tempo, revelador. A operação no Rio de Janeiro, que já soma 119 mortos, sendo quatro policiais, escancarou o que muitos fingiam não ver: o Estado perdeu o monopólio da força. Drones, fuzis importados, munição de guerra e criminosos agindo com tática militar são sintomas de algo maior — o narcoterrorismo consolidado.

Enquanto o governador Cláudio Castro põe o rosto na linha de tiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se esconde atrás de relatórios e pesquisas qualitativas. Seu pronunciamento, cirurgicamente redigido após consulta a estrategistas de imagem, foi uma peça de cálculo, não de liderança.
Lula falou o mínimo, no limite da conveniência. Evitou condenar os criminosos em tom firme, contornou a palavra “terrorismo” e preferiu o confortável terreno das generalidades: “apoio”, “ajuda”, “cooperação”. Termos que enchem discursos e esvaziam ações.
O problema é que governar exige riscos, e o presidente parece ter feito a escolha de não se comprometer. O país esperava o chefe de Estado; recebeu o candidato à reeleição.
O contraste com o Rio é escandaloso. Castro chama o problema pelo nome, age e cobra. É imperfeito, sim, mas está em campo. Do outro lado, o governo federal pratica a tática da neutralidade — e a neutralidade, diante da barbárie, é um tipo de cumplicidade.

Mais de 70% dos brasileiros apoiam o enfrentamento direto ao crime. A população entendeu o que Brasília insiste em negar: estamos diante de um conflito armado interno. A guerra não é metafórica. Há territórios dominados, fronteiras invisíveis, economia paralela. Não é mais “caso de polícia”. É questão de Estado.
Os quatro policiais mortos são símbolos de um heroísmo silencioso. Morreram servindo um país que lhes virou o rosto. São o que restou de um Estado que resiste à beira do colapso — um Estado que, mesmo ferido, ainda tenta reagir.
Lula, ao falar tarde e falar pouco, perdeu o instante em que poderia ter assumido a narrativa e mostrado comando. O silêncio que antecedeu seu discurso foi mais eloquente do que qualquer frase cuidadosamente editada. O país entendeu: não há coragem onde há cálculo.
E, no auge da crise, o presidente ainda afirmou que “os traficantes também são vítimas dos usuários” — uma frase que beira o delírio político e revela um abismo entre o Palácio e o país real.
Enquanto policiais tombam e o Rio de Janeiro se transforma em campo de guerra, Lula escolhe a retórica da inversão moral: transforma criminosos armados em vítimas e reduz o terror das comunidades a um debate sociológico de gabinete.

Não se trata de compaixão, mas de negação da realidade. Nenhum policial morto, nenhuma mãe que enterra um filho, nenhum morador sitiado por fuzis pode aceitar que o chefe da nação enxergue o agressor como oprimido. É um discurso que absolve o crime, enfraquece o Estado e ofende quem ainda acredita na lei.
A fala presidencial não é apenas insensível — é politicamente covarde. Dita para agradar bolhas ideológicas, revela o medo de enfrentar o óbvio: o país vive sob domínio armado em parte do território.
Quando o presidente da República relativiza o criminoso, ele não se distancia só das ruas — se distancia da própria autoridade.
Enquanto o Rio sangra, Lula tenta reescrever a tragédia em linguagem de campanha. Mas a realidade não cabe em discurso.Muito menos em pesquisa de opinião.
Talvez a única preocupação e medo do presidente Lula é que o fuzil exploda as urnas.















