O reajuste salarial concedido pelo presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos — a si próprio. Desde que assumiu a chefia da estatal em 2023, o advogado e professor universitário aumentou seu próprio salário em 14%, contra um modesto 4,1% garantido ao conjunto dos funcionários pelo Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
O movimento acontece em meio ao pior resultado financeiro dos Correios desde 2016. Em 2024, a empresa registrou um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, número quatro vezes superior ao verificado em 2023, quando o déficit foi de R$ 597 milhões. Os números colocam em xeque a gestão da empresa pública, cuja missão constitucional inclui a universalização dos serviços postais no território nacional.
Antes da posse de Fabiano Silva, o salário do presidente da estatal era de R$ 46.727,77. Em abril de 2023, passou para R$ 50.933,27. Um ano depois, em abril de 2024, atingiu os R$ 53.286,39 mensais. A remuneração, no entanto, não se limita ao salário base. O dirigente também recebe benefícios que acompanharam a escalada dos vencimentos: auxílio-moradia elevado de R$ 4.331,90 para R$ 4.721,78; auxílio-alimentação de R$ 699,35 para R$ 1.036,09; previdência complementar de R$ 7.572,08 para R$ 7.921,91, além de plano de saúde fixado em R$ 749,10, inalterado no período.
Somam-se a esses valores as gratificações natalinas, auxílio-férias, ajuda de custo e a participação como membro do Conselho de Administração, que garante remuneração adicional calculada sobre 5% da média salarial da diretoria executiva.
Os diretores da estatal também não ficaram de fora da bonança. No primeiro ano do governo Lula, os salários da alta direção saltaram de R$ 40.632,85 para R$ 46.336,00, com benefícios igualmente acrescidos.
Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aprovado pelo Conselho de Administração dos Correios em fevereiro de 2023, Fabiano Silva é uma figura conhecida nos círculos políticos de Brasília. Ligado ao grupo Prerrogativas — coletivo de juristas crítico à Operação Lava Jato — o atual presidente da estatal mantém alinhamento público ao Partido dos Trabalhadores, o que levantou, à época de sua nomeação, questionamentos sobre a politização de cargos estratégicos em estatais.
Enquanto a estrutura dos Correios enfrenta dificuldades operacionais, a classe trabalhadora amarga reajustes tímidos, e a empresa se desidrata financeiramente, o topo da pirâmide administrativa segue sendo contemplado com reajustes expressivos. A discrepância levanta um questionamento inevitável: quem está, de fato, pagando a conta do rombo bilionário da estatal?