O depoimento do ex-prefeito de São José de Ribamar, Eudes Sampaio, prestado no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), provocou mais ruído político do que efeito jurídico. Ao contrário do que divulgaram alguns blogs e portais, a fala de Eudes não incrimina diretamente o deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA) — nem apresenta fato novo capaz de alterar o rumo da investigação.
A declaração que ganhou manchetes é clara
“Ele me mandava mensagem e eu bloqueava, eu nem abria a mensagem, porque eu não queria ter vínculo nenhum com ele. Aí eu bloqueava, ele mandava de outro telefone, eu bloqueava. Eu só olhava na tela preta, quando eu via que era ele, eu desligava.”
— Eudes Sampaio, em depoimento à PGR
Essa fala, longe de comprometer o deputado, reforça a ausência de relação direta entre Eudes e Josimar. Não há menção a cobrança de propina, nem evidência de tratativa política ou financeira. O ex-prefeito descreve tentativas de contato — e não a prática de qualquer ato ilícito.
Fontes que acompanham o processo lembram que toda a narrativa sobre o suposto esquema de emendas gira em torno de Josival Cavalcanti da Silva, o Pacovan, empresário que atuava de forma autônoma. Segundo os depoimentos, ele fazia as cobranças e tentava mediar repasses, sem vínculo direto com os parlamentares citados.
A distorção do depoimento expõe um vício recorrente no debate público: transformar versões em verdades prontas. Em meio a interesses políticos, o conteúdo técnico da audiência foi reduzido a manchetes rasas — um erro que compromete a compreensão do caso e cria narrativa conveniente a adversários.
“Quando o próprio depoente afirma que evitava contato e bloqueava o número do deputado, ele está dizendo, em outras palavras, que não existia relação direta”, resume um analista ouvido pela redação.
Josimar Maranhãozinho mantém presença consolidada na política maranhense. Sua força eleitoral e influência regional o colocam como alvo de disputas internas — inclusive dentro do próprio campo conservador. Em Brasília, há quem veja o episódio como mais uma tentativa de fragilizar sua imagem às vésperas de recomposição de forças no PL.
O caso, em si, não avançou com novas provas, não trouxe fatos inéditos e tampouco envolveu diretamente o parlamentar. O que se ampliou foi a narrativa — e, nela, o jogo é outro.
O depoimento de Eudes Sampaio altera na prática o conteúdo jurídico do processo, e expõe o quanto a política ainda é capaz de reinventar versões para moldar percepções. Em vez de apontar culpa, a fala do ex-prefeito confirma distância, ausência de contato e falta de envolvimento direto do deputado.
Em resumo:
Não há prova de cobrança;
Não há registro de repasse;
Não há interlocução direta.
Há, sim, uma tentativa evidente de transformar um depoimento neutro em sentença pública. No fim, o caso diz menos sobre contravenção e mais sobre o poder da narrativa — um poder que, no Maranhão, continua sendo exercido com precisão de campanha e estratégia política cirúrgica.
“Em tempo: blogs reféns do ostracismo jornalístico e viciados da extorsão e nas paixões políticas transformam a imprensa séria e a comunicação em balcão de fuxico de mesa de bar de quinta categoria, convertendo a política maranhense em um mercado mercenário de especulação.