Em uma decisão que surpreendeu até os mais atentos aos bastidores do Congresso, a Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle (CTFC) do Senado aprovou, no início de setembro, uma proposta de fiscalização e controle destinada a investigar supostas irregularidades na administração dos Correios. Embora não tenha o peso formal de uma CPI aprovada em plenário, a medida foi rapidamente apelidada de “mini-CPI”, justamente por abrir espaço para coleta de documentos, convocação de depoimentos e eventual responsabilização de gestores.
A iniciativa, encabeçada pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e relatada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), conquistou maioria sem necessidade de deliberação do plenário, revelando uma articulação política silenciosa, mas eficaz. Para a oposição, trata-se de um passo decisivo rumo à apuração de um setor estratégico do Estado, que há anos acumula denúncias de má gestão e ineficiência.
O governo, por sua vez, tenta minimizar o impacto. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) já anunciou recurso à Mesa Diretora, alegando que a votação extrapolou as competências regimentais da comissão e carregou vícios de procedimento. O gesto é sintomático: indica temor de que a investigação, mesmo restrita à CTFC, produza desgaste público equivalente ao de uma CPI formal.
Na prática, a proposta dá aos senadores instrumentos concretos para mapear contratos, ouvir dirigentes e recorrer a órgãos de controle, como o TCU e o Ministério Público Federal. Caso surjam evidências robustas, nada impede que o movimento evolua para a instalação de uma CPI em plenário, com poder de investigação ampliado.
O episódio também escancara a dificuldade do Executivo em conter derrotas no Parlamento. lo de fiscalização republicana.
A chamada “mini-CPI” pode até carecer do aparato de uma comissão parlamentar de inquérito clássica, mas seu alcance político é inegável. Ao aprová-la, o Senado envia um recado claro: não há blindagem suficiente quando há sinais de má gestão em áreas estratégicas.
Seja qual for o desfecho, a imagem dos Correios – e, por tabela, a do governo – seguirá sob os refletores. E, como se sabe em Brasília, uma investigação pode até começar pequena, mas nunca se sabe onde vai terminar.
Em 2023, os Correios registraram prejuízo líquido de 597 milhões de reais – o terceiro maior entre as 27 estatais federais que fecharam o ano no vermelho.
O rombo financeiro — três vezes maior do que o registrado em 2024 — foi ampliado pelos resultados negativos das contas da estatal no segundo trimestre deste ano.
O detalhe é que esse prejuízo deve superar, em breve, outro recorde negativo: o da gestão , em 2015, com Dilma Rousseff.
Na gestão do ex – presidente Bolsonaro os Correios tiveram um lucro de R$ 3,7 bilhões.